Diante do nacionalismo crescente e de uma crise ecológica planetária fomentada pelo capitalismo global, o ethos internacionalista de Rosa Luxemburgo é mais relevante do que nunca.
Poucos pensadores marxistas estavam mais comprometidos com o programa internacionalista do socialismo do que Rosa Luxemburgo. Ela era judia, polonesa e alemã, mas sua primeira e única “pátria” era a Internacional Socialista.
Ao contrário de tantos outros socialistas de sua época, para Luxemburgo o internacionalismo não estava limitado aos países europeus. Ela se opôs ativamente ao colonialismo europeu desde cedo, e não escondeu sua simpatia pelas lutas dos povos coloniais. Isto naturalmente incluiu guerras coloniais alemãs na África, como a brutal repressão da revolta de Herero no Sudoeste da África alemã em 1904. Em um discurso público realizado em junho de 1911, ela explicou:
“Os Herero são um povo negro, que vivem há séculos em sua pátria… Seu ‘crime’ foi não terem cedido aos traficantes brancos de escravos… e defendido suas terras contra invasores estrangeiros… Também nesta guerra, as armas alemãs foram ricamente cobertas com – glória. … Os homens foram fuzilados, as mulheres e crianças… empurrados para o deserto ardente”.
Enquanto condenava as pretensões imperialistas alemãs (contra a França) no Norte da África – o chamado “incidente do Marrocos” em 1911, quando a Alemanha enviou seus barcos de guerra para Agadir – ela descreveu o colonialismo francês na Argélia como uma violenta tentativa de impor a propriedade privada burguesa contra o antigo comunismo de clã das tribos árabes. Em suas palestras sobre economia política na escola do Partido Social Democrata em 1907-1908, ela enfatizou a conexão entre o comunismo moderno das massas proletárias nos países capitalistas avançados e os “antigos sobreviventes comunistas que colocaram resistência teimosa nos países coloniais à marcha progressiva da dominação imperial “faminta de lucro”.
Em seu ensaio econômico mais importante, A Acumulação de Capital, ela argumentou que a acumulação capitalista em escala global não era apenas um estágio inicial, mas um processo permanente de expropriação violenta:
A acumulação de capital, vista como um processo histórico, emprega a força como uma arma permanente, não apenas em sua gênese, mas mais adiante até os dias de hoje. Do ponto de vista das sociedades primitivas envolvidas, trata-se de uma questão de vida ou morte; para elas não pode haver outra atitude além de oposição e luta até o fim… Daí a ocupação permanente das colônias pelos militares, os levantamentos nativos e as expedições punitivas são a ordem do dia para qualquer regime colonial.
Muito poucos socialistas na época não apenas denunciaram as expedições coloniais, mas justificaram a resistência e a luta do povo colonizado. Esta atitude revela a natureza verdadeiramente universal de seu internacionalismo – mesmo que, é claro, a Europa estivesse no centro de sua atenção.
“TRABALHADORES DO MUNDO, UNI-VOS!” Georg Lukács, em seu capítulo sobre “O Marxismo de Rosa Luxemburgo” em História e Consciência de Classe (1923), argumentou que a categoria dialética da totalidade é a “portadora do princípio da revolução na ciência”. Ele via os escritos de Rosa Luxemburgo, especialmente sua Acumulação de Capital (1913), como um exemplo marcante desta abordagem dialética. No entanto, o mesmo pode ser dito de seu internacionalismo: ela julga, analisa e discute todas as questões sociais e políticas do ponto de vista da totalidade, ou seja, da perspectiva dos interesses do movimento internacional da classe trabalhadora.
Esta totalidade dialética não era uma abstração, um universalismo vazio ou um conglomerado de seres indiferenciados: ela sabia bem que o proletariado internacional era uma pluralidade humana composta de pessoas com culturas, línguas e histórias próprias; suas condições de vida e de trabalho também eram muito diferentes. Em Acumulação de Capital há uma longa descrição do trabalho forçado nas minas e plantações da África do Sul – nada equivalente poderia ser encontrado nas fábricas alemãs. Mas esta diversidade não devia ser entendida como um obstáculo à ação comum: em outras palavras, o internacionalismo significava para ela, como para Marx e Engels, “Proletarier aller Länder, vereinigt euch! – a unidade dos trabalhadores de todos os países contra seu inimigo comum: o sistema capitalista, o imperialismo e as guerras imperialistas.
Por isso, logo após sua chegada à Alemanha e entrada nas fileiras do Partido Social Democrata Alemão (SDP), ela se recusou a fazer qualquer concessão ao militarismo, aos créditos militares ou às expedições navais. Enquanto a direita socialdemocrata (pessoas como Wolfgang Heine e Max Schippel) estava disposta a negociar acordos com o governo do Kaiser sobre estas questões, ela denunciou abertamente tais capitulações, supostamente justificadas pela “necessidade de criar empregos”.
CONSISTENTEMENTE ANTIGUERRA Rosa Luxemburgo viu claramente o perigo crescente de uma guerra europeia, e nunca deixou de denunciar os preparativos de guerra do governo imperial alemão. Em 13 de setembro de 1913, ela deu uma palestra em Bockenheim, uma cidade perto de Frankfurt am Main, que terminou com uma solene declaração internacionalista: “Se eles pensam que vamos levantar as armas do assassinato contra nossos franceses e outros irmãos, então gritaremos: nunca o faremos”! O promotor público imediatamente a acusou de “apelar para a desobediência pública à lei.
O julgamento foi realizado em fevereiro de 1914, e Rosa Luxemburgo fez um discurso destemido atacando o militarismo e as políticas de guerra e citando uma resolução da Conferência de Bruxelas de 1868 da Primeira Internacional: em caso de guerra, os trabalhadores devem convocar uma greve geral. A palestra apareceu na imprensa socialista e se tornou uma espécie de clássico da literatura antiguerra. Ela foi condenada a um ano de prisão, mas somente depois que a guerra começou, em 1915, as autoridades Imperiais ousaram prendê-la. Enquanto tantos outros socialistas e marxistas europeus apoiaram seus próprios governos no início da Primeira Guerra Mundial em nome da “defesa da pátria”, ela imediatamente procurou organizar a oposição à guerra imperialista. Seus escritos durante estes primeiros meses cruciais não fazem concessões à agressiva ideologia oficial “patriótica”, e desenvolvem argumentos cada vez mais críticos contra a infeliz traição da liderança do SPD aos princípios do internacionalismo proletário.
Presa várias vezes por sua propaganda anti-militarista e anti-nacionalista, ela resumiu seu ponto de vista de princípios em um ensaio de 1916 intitulado “Either/Or”: “A pátria do proletariado, cuja defesa deve prevalecer sobre tudo o resto, é a Internacional Socialista”. A Segunda Internacional havia sucumbido sob o impacto do que ela chamou de “social-chauvinismo”, substituindo “Proletários de todos os países, uni-vos!” por “Proletários de todos os países, cortem as gargantas uns dos outros!” Em resposta, Luxemburgo lançou um apelo para a criação de uma nova Internacional. Escrevendo sua proposta para os princípios básicos desta futura Internacional, ela enfatizou: “Não pode haver socialismo fora da solidariedade internacional do proletariado e não pode haver socialismo sem luta de classes”. O proletariado socialista não pode renunciar à luta de classes e à solidariedade internacional, seja em guerra ou em paz, sem cometer suicídio”.
Isto foi, naturalmente, uma resposta ao argumento hipócrita de Karl Kautsky de que a Internacional era uma ferramenta para tempos de paz, mas infelizmente não adequada em uma situação de guerra. Esta nova teoria serviu de justificativa para seu apoio à “defesa nacional” alemã em 1914. “Either/Or” inclui uma declaração pessoal, uma comovente confissão de seus mais queridos valores éticos e políticos: “A fraternidade internacional dos trabalhadores é para mim a coisa mais elevada e sagrada do mundo, é minha estrela-guia, meu ideal, minha pátria; prefiro desistir de minha vida, do que me tornar infiel a este ideal”!
ADVERTÊNCIA CONTRA O NACIONALISMO Rosa Luxemburgo foi profética em seus avisos contra os males do imperialismo, do nacionalismo e do militarismo. Um profeta não é alguém que prevê milagrosamente o futuro, mas alguém que, como Amós e Isaías, adverte o povo da catástrofe que se avizinha – a menos que eles tomem medidas coletivas para evitá-la. Ela advertiu que sempre haveria novas guerras enquanto o imperialismo e o capitalismo continuassem a existir:
A paz mundial não pode ser assegurada por planos tão utópicos ou basicamente reacionários como as cortes internacionais de arbitragem compostas por diplomatas capitalistas, acordos diplomáticos relativos ao “desarmamento” … “federações europeias”, “uniões alfandegárias da Europa média”, “Estados-tampão nacionais” e similares. Imperialismo, militarismo e guerras não serão abolidos ou condenados enquanto a regra das classes capitalistas continuar incontestável.
Ela advertiu contra o nacionalismo como inimigo mortal dos trabalhadores e do movimento socialista e como um terreno fértil para o militarismo e a guerra. “A tarefa imediata do socialismo”, escreveu ela em 1916, “será a libertação intelectual do proletariado do domínio da burguesia como manifesta na influência da ideologia nacionalista”.
No “Fragmento sobre a Guerra, a Questão Nacional e a Revolução” (1918), ela se preocupa com o súbito aumento dos movimentos nacionalistas durante o último ano da guerra: “No nacionalista Blockberg estamos hoje na noite de Walpurgis” (uma referência ao sábado das bruxas mitológicas alemãs). Estes movimentos eram de natureza muito diferente, sendo alguns a expressão de classes burguesas menos desenvolvidas (como nos Balcãs), enquanto outros, como o nacionalismo italiano, eram puramente imperial-coloniais. Esta “atual explosão mundial do nacionalismo” continha uma variedade multicolorida de interesses especiais, mas estava unida por um interesse comum decorrente da situação histórica excepcional criada em outubro de 1917: a luta contra a ameaça da revolução mundial do proletariado.
O que ela quis dizer com “nacionalismo” não foi, naturalmente, a cultura nacional ou a identidade nacional de diferentes povos, mas sim a ideologia que transforma “A Nação” no supremo valor político ao qual tudo o mais deve se submeter (“Deutschland über alles“).
Suas advertências foram proféticas, na medida em que alguns dos piores crimes do século XX – da Primeira à Segunda Guerra Mundial (Auschwitz, Hiroshima) e mais além – foram cometidos em nome do nacionalismo, da hegemonia nacional, da “defesa nacional”, do “espaço vital nacional” e afins. O próprio estalinismo foi o produto da degeneração nacionalista do estado soviético, como encarnado no slogan “Socialismo em um só país”.
Pode-se criticar algumas de suas posições em relação às demandas nacionais, mas ela percebeu claramente os perigos da política de Estado-nação (conflitos territoriais, “limpeza étnica”, opressão das minorias). Ela não poderia ter previsto genocídios.
OPOSIÇÃO À INDEPENDÊNCIA NACIONAL É verdade, porém, que este internacionalismo radical a levou a tomar posições questionáveis sobre a questão nacional. Por exemplo, em relação a seu país natal, a Polônia, ela não só se opôs ao apelo à independência nacional polonesa levantado pelos “patriotas sociais” do Partido Socialista Polonês (PPS) de Piłsudski, mas até rejeitou o apoio bolchevique ao direito da Polônia à autodeterminação (incluindo o direito de se separar da Rússia).
Até 1914, ela basearia suas opiniões em argumentos “economistas”: A Polônia já estava integrada na economia russa e, portanto, a independência polonesa era uma demanda puramente utópica compartilhada apenas por camadas reacionárias aristocráticas ou mesquinhas burguesas. Ela também concebeu as nações como fenômenos essencialmente “culturais”, propondo a “autonomia cultural” como a solução para as demandas nacionais. Faltando em sua abordagem é precisamente a dimensão política da questão nacional, como enfatizado nos escritos de Lenin sobre o tema: o direito democrático à autodeterminação.
No entanto, pelo menos em um artigo, ela declarou o problema de uma forma muito mais aberta e dialética: a introdução de 1905 à coleção A Questão Polonesa e o Movimento Socialista. Neste ensaio, ela faz uma distinção cuidadosa entre o direito legítimo de cada nação à independência – “que fluiu diretamente dos princípios mais elementares do socialismo” – e a conveniência desta independência para a Polônia, que ela rejeitou. Ela também insistiu que a opressão nacional é “a opressão mais intoleravelmente bárbara”, e só pode provocar “uma revolta irada e fanática”. No entanto, alguns anos mais tarde, em seu caderno de 1918, A Revolução Russa – que contém críticas altamente valiosas aos controles da democracia e liberdade dos bolcheviques – ela rejeita mais uma vez qualquer referência ao direito da nação à autodeterminação como “fraseologia oca, mesquinha e pequeno-burguesa”.
UMA BÚSSOLA PARA A ESQUERDA GLOBALIZADA Qual é a relevância do internacionalismo de Rosa Luxemburgo hoje? É claro que as condições históricas do início do século XXI são muito diferentes das do início do século XX, quando ela escreveu a maioria de seus textos. No entanto, em alguns aspectos decisivos, sua mensagem internacionalista é tão – ou talvez até mais – relevante hoje como no seu tempo. No século XXI, a globalização capitalista impôs seu poder a um grau historicamente sem precedentes, promovendo níveis obscenos de desigualdade e levando a consequências ambientais catastróficas. De acordo com o Relatório Oxfam de 2017, oito bilionários e proprietários de empresas multinacionais têm uma fortuna equivalente à da metade mais pobre da humanidade (3,8 bilhões de pessoas). Através de suas instituições – o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC) e o G7 – o capital consolidou um bloco unido de classes dirigentes capitalistas em torno do neoliberalismo e da desregulamentação.
É claro que existem contradições entre vários interesses imperialistas, mas todos eles compartilham uma agenda comum: apagar todas as conquistas parciais do movimento dos trabalhadores, eliminar os serviços públicos, privatizar os lucros e socializar as perdas, e assim intensificar a exploração. Este processo planetário é hegemonizado pelo capital financeiro parasitário, cujo governo despótico através dos mecanismos cegos e reificados dos “mercados financeiros” é agora imposto às populações de todos os países.
A resistência local e nacional é necessária, mas insuficiente: um sistema planetário tão perverso deve ser combatido em escala planetária. Em outras palavras, a resistência anticapitalista deve ser globalizada. As Internacionais Comunistas e Socialistas da época de Rosa Luxemburgo quase não existem nesta forma. Existem algumas organizações regionais, como o Partido da Esquerda Europeia ou a Conferência Latino-americana de São Paulo, mas nenhum organismo internacional equivalente. A Quarta Internacional fundada por Leon Trotsky em 1938 ainda está ativa em todos os quatro continentes, mas sua influência é limitada. A principal razão de esperança é o novo movimento internacional pela justiça global, que está plantando as sementes de uma nova cultura internacionalista. A forma tomada por esta resistência planetária à globalização capitalista é a do “movimento de movimentos”, uma federação flexível de movimentos sociais cuja principal expressão é o Fórum Social Mundial, fundado em 2001. Esta convergência de sindicalistas, feministas, ambientalistas, trabalhadores, camponeses, comunidades indígenas, redes de juventude, assim como grupos socialistas ou comunistas na luta comum contra a globalização empresarial – ou seja, capitalista – é um importante passo em frente. Naturalmente, é principalmente um espaço para a troca de experiências e a tomada de iniciativas comuns dispersas e carece da ambição de definir uma estratégia ou programa comum.
O legado de Rosa Luxemburgo pode ser importante para este movimento em muitos aspectos. Ela deixa claro que o inimigo não é a “globalização” ou apenas o “neoliberalismo”, mas o próprio sistema capitalista global. A alternativa à hegemonia capitalista global não é a “soberania nacional”, a defesa do nacional contra o global, mas sim a resistência globalizante, ou seja, internacionalizante. A alternativa ao Império não é uma forma “regulada”, “humanizada” de capitalismo, mas uma nova civilização mundial, socialista e democrática. Naturalmente, em nossos tempos temos que lidar com novos desafios desconhecidos para Rosa Luxemburgo: catástrofe ecológica e aquecimento global. Eles resultam da dinâmica destrutiva do desejo ilimitado de expansão e crescimento dos capitalistas e devem ser enfrentados em escala global. Em outras palavras, a crise ecológica é um novo argumento para a relevância do ethos internacionalista de Luxemburgo.
O aviso de Rosa Luxemburgo contra o veneno do nacionalismo nunca foi tão relevante. No mundo de hoje – e particularmente na Europa e nos Estados Unidos – o nacionalismo, a xenofobia e o racismo sob diversas formas “patrióticas”, reacionárias, fascistas ou semifascistas estão em ascensão e constituem um perigo mortal para a democracia e a liberdade. A islamofobia, o antisemitismo e o racismo anti-cigano estão em ascensão, desfrutando de um apoio governamental aberto ou discreto. Acima de tudo, o ódio xenófobo aos migrantes – populações desesperadas fugindo de perseguições, guerras e fome – é cinicamente promovido pelos partidos neofascistas e/ou governos autoritários. Orbán, Salvini e Trump são apenas os representantes mais flagrantes e nauseabundos das políticas que expulsam os migrantes – sejam muçulmanos, africanos ou mexicanos – e os denunciam como uma ameaça à identidade nacional, racial ou religiosa. Milhares de migrantes são condenados à morte nas águas do Mediterrâneo pelo fechamento hermético das fronteiras da Europa. Pode-se tratar isto como uma nova forma do comportamento colonialista brutal, tão duramente denunciado por Rosa Luxemburgo.
Seu internacionalismo socialista continua sendo uma inestimável bússola moral e política em meio a esta tempestade xenofóbica. Felizmente, os internacionalistas marxistas não são os únicos a se opor obstinadamente à onda racista e nacionalista: muitas pessoas em todo o mundo, movidas por valores humanistas, religiosos ou morais, estão demonstrando solidariedade com minorias perseguidas e migrantes. Sindicalistas, feministas e outros movimentos sociais estão ocupados em organizar pessoas de todas as raças e nacionalidades em uma luta comum contra a exploração e a opressão.
A xenofobia reacionária é a única forma de nacionalismo no mundo de hoje? Não se pode negar que ainda existem movimentos de libertação nacional com exigências legítimas de autodeterminação – um conceito que, como sabemos, Rosa Luxemburgo não subscreveu. Os palestinos e os curdos são dois exemplos óbvios. No entanto, é interessante observar que a principal força nacionalista curda de esquerda, o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), decidiu abandonar o apelo por um Estado-nação separado. Criticando o Estado-nação como uma forma opressiva, adotou uma nova perspectiva influenciada pelas ideias anarquistas de Murray Bookchin: o “Confederalismo Democrático”.
As ideias internacionalistas de Rosa Luxemburgo, mas também de Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Gramsci, José Carlos Mariatégui, W.E.B. Dubois, Frantz Fanon e muitos outros são instrumentos preciosos para compreender e transformar nossa realidade. São armas necessárias e indispensáveis para as lutas de nosso tempo. No entanto, o marxismo é um método aberto, em constante movimento, que deve cultivar novas ideias e conceitos para enfrentar os novos desafios de cada época.
É com imenso prazer que lançamos hoje o livro “Paris está em chamas: memórias da Comuna – Louise Michel“, com memórias da revolucionária anarquista e comunarda Louise Michel, traduzidas pela primeira vez ao português. A obra é iniciada com um prefácio do prof. Dr. Raphael Cruz, que busca traçar um pequeno esboço biográfico que se confunde com insurgências e rebeliões que eclodiram em toda a Europa, culminando com o assalto aos céus que trouxe ao mundo a primeira experiência de autogoverno do povo – a Comuna de Paris. Conta ainda com três memórias de Michel enquanto participava da Comuna, no Comitê de Vigilância do 18º Distrito. Essas memórias registram suas impressões durante a proclamação da Comuna, a vida cotidiana na insurgente cidade de Paris e sobre as mulheres que participaram do levante. Finaliza-se a obra com uma cronologia de sua vida.
O livro tem o valor de R$15,00 com frete gratuito para todo o país e acompanha, durante o período de pré-venda, um cartaz comemorativo ao sesquicentenário da Comuna de Paris. Para adquirir, visite nossa loja online pelo link: https://linktr.ee/tsa.editora.
“A proclamação da Comuna foi esplêndida. Não era a festa do poder, mas a cerimônia do sacrifício. Sentia-se que os eleitos eram votados ao martírio e à morte”.
O 8 de março tem sido celebrado mundialmente há mais de um século como o Dia Internacional da Luta da Mulher. Neste dia, as mulheres se erguem mais alto do que nunca e unem suas demandas por liberdade e luta por seus direitos. Este dia proclama ao mundo inteiro que as mulheres lutam e resistem não apenas um dia, mas a cada dia e em cada momento da vida. Além da luta pelos direitos e liberdade das mulheres, os direitos das crianças, sociais, ambientais e outras questões também estão na agenda. Porque vemos claramente que a opressão da mulher também significa a opressão da sociedade e isso é um de seus problemas mais antigos.
A ideologia patriarcal em nossas sociedades é evidente e, mais do que nunca, nós, como mulheres, entendemos sua realidade em todo o mundo. Vemos claramente que através da escravidão e ocupação das mulheres, esses mesmos sistemas opressivos de dominação estão se formando, mirando em nós como mulheres, e cometendo feminicídio. Assim, a violência contra as mulheres como política do sistema patriarcal do capitalismo atingiu níveis de terror e genocídio nos últimos anos. Em contraste, porém, também vemos que as mulheres em todo o mundo não estão ociosas, mas sua luta atingiu uma força revolucionária.
Mulheres de todos os países, culturas, etnias ou religiões decidiram se opor a qualquer agressão que tente tirar nossas vidas: Como mulheres, nós defendemos nossa existência, nossos territórios, nossas culturas e nossas sociedades. Com base na solidariedade das mulheres de todo o mundo, organizamos nossas lutas que marcaram e marcarão o século XXI.
O século XXI é o século da revolução das mulheres e continuaremos nossa resistência de acordo com essa premissa. O assassinato sistemático das mulheres e da sociedade só pode ser impedido através de revoluções das mulheres, que devem ser reforçadas em todas as áreas e em todos os momentos da vida. Temos visto com esperança que as mulheres em todo o mundo estão lutando ativa e coletivamente contra todas as formas de dominação. Da Bolívia ao México, da França à Espanha, da Polônia à Argentina, do Egito ao Paquistão, do Afeganistão ao Irã, do Baluquistão ao Curdistão, e muito além, as mulheres estão resistindo unidas em voz e cor.
No último ano, as mulheres em todo o mundo saíram às ruas e resistiram às instituições dominadas pelos homens que fazem de suas vidas um inferno. Com uma grande variedade de slogans, elas ergueram suas vozes para o mundo. Vamos tomar os clamores de nossas resistentes irmãs e levá-los adiante. Porque a origem de nossa opressão como mulheres, e portanto a origem de nossa opressão como sociedade, vem da mesma mentalidade. Estamos prontas para lutar e acabar com a mentalidade patriarcal e a violência de uma vez por todas.
Entretanto, como mulheres do norte e leste da Síria e Rojava, também aprendemos que a luta e a revolução das mulheres trazem muita dor e perda. Perdemos nossas amadas camaradas Zehra, Hebûn, Dayika Emine, Saada e Hind no ano passado, que viveram seu amor e devoção à liberdade das mulheres e lideraram uma forte luta contra a mentalidade patriarcal, razão pela qual foram alvo de assassinato. Entretanto, isto só reforça nossa vontade e convicção para vingar nossos companheiros que deram suas vidas pela liberdade da mulher. Sabemos que não estamos lutando sozinhas. O assassinato de nossas camaradas foi um ataque a todas as mulheres que se organizam, uma tentativa de nos alienar porque sabem que a organização é nossa melhor arma. Organizadas, não só resistiremos para nos defender, mas também poremos um fim ao feminicídio.
Como mulheres, estamos lutando uma grande luta todos os dias e para nós, 8 de março é um dia de grande importância. Aqui em Rojava e no Norte e Leste da Síria, o lugar da revolução das mulheres, celebramos o Dia da Luta das Mulheres deste ano com o slogan: “A NOSSA LUTA GARANTIRÁ A REVOLUÇÃO DAS MULHERES”. A todas as mulheres do mundo, gostaríamos de dizer: Viva o 8 de março! Viva o Dia da Luta das Mulheres! Mostramos nosso maior respeito a todas as mulheres e pessoas que contribuem com sua parte para esta preciosa luta!
A indignação pelo sequestro de Abdullah Öcalan em Nairobi, Quênia, em 1999, foi o momento fundacional da Iniciativa Internacional “Liberdade para Abdullah Öcalan – Paz no Curdistão”, que continua fazendo campanha e informando o público. A cada ano, a indignação pelo sequestro de Öcalan e a demanda por sua liberdade tem crescido, unindo pessoas de todos os continentes.
Vinte e dois anos após Öcalan ter sido sequestrado e entregue à Turquia, onde foi posteriormente condenado à morte em um julgamento fraudulento, uma das pessoas que o tornou possível está no auge de sua carreira: Antony Blinken.
Na época do sequestro de Öcalan, Blinken era assessor especial de segurança nacional do presidente americano Bill Clinton. Embora seu papel exato seja desconhecido, ele revelou na televisão turca, em 2002, que foram os Estados Unidos que entregaram Öcalan à Turquia. Ficou claro para Öcalan e o Movimento pela Liberdade do Curdistão que seu sequestro fazia parte de uma “trama internacional” destinada a remover um grande obstáculo à política de intervenção militar dos Estados Unidos e de seus aliados no Oriente Médio. Hoje é um bom dia para olharmos no que este complô implicou e o que resultou dele.
As consequências do sequestro
Todos nós sabemos o que se seguiu: uma série de invasões e guerras que contribuíram para dividir ainda mais as sociedades, já em crise, e colocar os povos do Oriente Médio uns contra os outros. Isto culminou com os ataques genocidas do Estado islâmico. O ISIS foi em grande parte um produto dessas políticas intervencionistas. Portanto, esta trama não foi dirigida apenas contra Öcalan e os curdos, mas contra toda a região e seus povos.
Por outro lado, Öcalan alertou repetidamente sobre os perigos inerentes a esta situação e apresentou sugestões e projetos para superar divisões nacionais e religiosas e criar um novo Oriente Médio baseado na democracia e não no nacionalismo secular ou religioso. Ele descreveu seus esforços como um projeto para “frustrar o complô internacional”.
Öcalan tem trabalhado consistentemente contra este complô, e cada ano, em 15 de fevereiro, os curdos do mundo inteiro nos lembram que esta parte o complô falhou. Hoje, os curdos estão liderando um esforço para reunir os povos da região em torno de um modelo inclusivo de autodeterminação. Os resultados disso são mais visíveis no nordeste da Síria, uma área governada democraticamente e que é um farol de esperança para a região em geral.
Os Estados Unidos, ao contrário, continuaram em seu caminho para remodelar o Oriente Médio de acordo com suas necessidades, militarmente e através de outras formas de intervenção. Talvez não seja mais do que um capricho do destino que Antony Blinken, um dos arquitetos do intervencionismo, cujo papel remonta à administração Clinton, tenha agora que lidar com alguns dos resultados desastrosos dessas intervenções.
Enquanto isso, Öcalan aprofundou seu projeto de paz e democracia. Com seus escritos na prisão e suas intervenções políticas, ele se tornou um dos mais originais e influentes pensadores e interlocutores do século 21. Além disso, a revolução de Rojava, muito inspirada pelos escritos de Öcalan na prisão, mostrou ao mundo o que é o projeto do Movimento Curdo pela Liberdade: a coexistência pacífica, a resolução de conflitos entre os povos e nações do Oriente Médio e a liberdade das mulheres.
Inspiração
O antropólogo David Graeber, um dos grandes pensadores que perdemos no último ano, destacou esta dimensão em um texto sobre a busca da verdade de Öcalan: “É difícil encontrar outro teórico dos últimos cinquenta anos que tenha tomado ideias filosóficas e de ciências sociais e as tenha abraçado de tal forma que tenha sido capaz de inspirar milhões de pessoas para que tentem se tratar de maneira diferente”. (Building the Free Life: Dialogues with Öcalan, 2019)
Os Estados Unidos, Turquia, Rússia, Israel, a UE: todos queriam silenciar Öcalan. Não tiveram sucesso. Instituições de direitos humanos, como o Conselho da Europa e a Anistia Internacional, foram cúmplices. Só estavam preocupados com a pena de morte, e nem mesmo conseguiram que fosse levantada corretamente. A pena de morte foi simplesmente substituída por uma “pena de prisão perpétua agravada”, que se destina a assegurar que Öcalan seja mantido incomunicável “até a morte” em uma prisão da ilha. Mesmo assim, eles não tiveram sucesso. Os povos do Oriente Médio não se voltaram uns contra os outros, pelo menos não como resultado do sequestro de Öcalan. Os escritos de Öcalan na prisão vieram à luz e, como comentou corretamente David Graeber, eles continuam a inspirar milhões de pessoas. Um espírito tão grande como o de Öcalan não pode ser confinado pelas paredes da prisão.
O papel do CPT
O Comitê para a Prevenção da Tortura (CPT) visita frequentemente a ilha de İmralı e fez numerosas recomendações, que as autoridades turcas ignoram sistematicamente. No entanto, ao continuar seu chamado “diálogo” com o Estado turco, a CPT dá legitimidade às contínuas violações dos direitos humanos básicos dos prisioneiros na ilha de İmralı. Embora a CPT tenha se mostrado incapaz de melhorar a situação, o que ela corretamente denuncia como inaceitável, o resto do Conselho ou da Europa pode se referir constantemente à forma como a CPT está lidando com ela. Isto, por sua vez, fornece uma desculpa para não abordar a situação de nenhuma outra maneira.
É por isso que, após apenas um ano, outros presos políticos e ativistas iniciaram novamente greves de fome. Há quase três meses, há greves de fome rotativas nas prisões turcas e em outros lugares para protestar contra o confinamento solitário de Öcalan e exigir sua libertação. Ao mesmo tempo, houve numerosas manifestações ao redor do mundo como parte da campanha em andamento “É chegada a hora: Liberdade para Öcalan”.
Antony Blinken declarou recentemente que ele tem pensado longa e duramente sobre suas decisões passadas em países como a Síria. Ainda não vimos o resultado de suas reflexões. Será que os EUA e a OTAN deixarão de apoiar os ataques genocidas da Turquia e respeitarão a escolha das mulheres e do povo do Oriente Médio: o Confederalismo Democrático de Öcalan?
Öcalan e sua liberdade são indispensáveis para a paz e a democracia no Oriente Médio. Aqueles que apoiam aberta ou disfarçadamente o esforço de guerra turco, deixam Öcalan de fora ou ignoram deliberadamente as condições terríveis sob as quais ele está sendo mantido, se opõem diretamente à paz. É tão simples quanto isso. Apelamos ao mundo inteiro para que se junte a nós em nossa luta pela liberdade de Abdullah Öcalan, pois sua liberdade seria o prelúdio para a paz no Curdistão e no Oriente Médio.
E se Mikhail Bakunin fosse o eixo do pensamento decolonial para a América Latina? Essa é a principal reflexão que Martin Albert Persch faz em seu livro “Bakunin decolonial: emancipação epistemológica ou teoria heterodoxa”, publicado pela primeira vez em espanhol na Revista de Pensamiento Critico Aymara, no Peru e traduzido por nós da Editora Terra sem Amos ao português e publicado com muito orgulho hoje.
A potente obra aponta a dificuldade em pensar as lutas de autonomia e libertação da América Latina pelo eixo do marxismo, propondo a reflexão dessas lutas a partir de Bakunin, anarquista revolucionário russo. A partir disso, Martin diferencia o ateísmo liberal do ateísmo bakuninista, critica a premissa de um governo da ciência sobre as sociedades e analisa as estratégias defendidas pelo anarquista russo em relação as lutas de libertação dos povos eslavos e busca pensar as mesmas para a atual realidade da América Latina.
A produção do livro contou ainda com a imensa colaboração do ilustrador russo Boris Bashirov (@mrfinnfromkadath), a quem muito agradecemos, e que nos cedeu gentilmente o uso de sua impecável ilustração de Mikhail Bakunin, que agora compõe a capa do livro.
A obra possui 40 páginas, tendo o valor de R$ 15,00 com frete grátis para todo o país, e em pré-venda (que durará todo o mês de fevereiro), acompanhará o cartaz “Bakunin Decolonial”. Pode ser adquirida em nossa loja virtual, pelo link em nossa bio do Instagram (@tsa.editora) ou em https://linktr.ee/tsa.editora
“No presente ensaio trocaremos Marx por Bakunin, não com o propósito de mudar os totens, mas porque acreditamos que ao fazer esta mudança, estaremos em condições de orientar e focalizar o debate em questões de grande importância para as quais as soluções políticas propostas por Marx provaram não ser particularmente frutíferas. Perguntas muito importantes para as quais Marx não parece ter respostas conclusivas, mas para as quais encontramos soluções radicais e concretas nos textos de Bakunin”.
A resistência social atingiu um certo impasse quando os Estados-nação impuseram a austeridade como regime de governança da vida social.
Na América do Norte, os movimentos apenas reagem as crises e a organização ocorre em torno de questões bastante restritas.
Os movimentos antiglobalização das últimas décadas, como o Occupy e os protestos de rua contra o FMI, o Banco Mundial e o G20, são geralmente apresentados como resistências espontâneas ao Estado e ao capital.
Isto implicou no entendimento de que a sociedade guarda as sementes de sua própria destruição, que brotarão quando forem apresentados exemplos esperançosos de luta.
Duas perspectivas forjaram esta compreensão: uma insurrecionalista que procura uma faísca (um motim, talvez) para iniciar uma revolta, explorando a raiva pré-existente, e uma prefigurativa que procura inspirar as pessoas mostrando-lhes o “melhor caminho” através de experiências em pequena escala.
As perspectivas insurrecionalista e prefigurativa são acompanhadas de ativismo em movimentos e protestos. Ambas são, e têm sido pouco adequadas aos desafios colocados pelos governantes agressivamente ativos e com bons recursos.
As abordagens baseadas em ativismo não são suficientes. Há uma diferença real entre o movimentismo e as mobilizações sociais que ocorrem nas comunidades.
Os movimentos atuais na América do Norte estão lutando para superar o ativismo oposicionista (movimentismo) em direção à mobilização social de resistência.
Há uma necessidade de mudar das praças públicas para os bairros. No contexto atual onde as instituições sociais oficiais entraram em colapso, como na Grécia e na Espanha, elas foram substituídas, em parte, por projetos de ajuda mútua de maior escala, mas localizados. O terreno havia sido preparado pela construção de infraestruturas de resistência antes da ocorrência das recentes revoltas de massa e serviu de base para elas.
Preparação é a chave
O apoio popular a esses movimentos vem do fato de garantirem a satisfação das necessidades básicas e de conquistarem vitórias concretas, e não do ativismo ou das faíscas insurrecionalistas.
Muitos que se juntam àquelas iniciativas o fazem pelo desejo de encontrar comunidade ou segurança, e de obter ganhos tangíveis, em vez de primeiramente aderir aos princípios ou objetivos gerais, ou seja, acabar com o capitalismo e abolir o Estado.
As alternativas devem, em parte, ser capazes de oferecer um senso de pertencimento, união e atender às necessidades imediatas da comunidade, ao mesmo tempo em que defendem a ideia de ir além das relações sociais estatistas e capitalistas. Essas alternativas precisam desenvolver estratégias e táticas que nos aproximem do objetivo de ir além do Estado e do capital.
No contexto dos movimentos dos anos 1960, o escritor anarquista Paul Goodman insistiu que devemos desenvolver soluções concretas. Clínicas de saúde, escolas, fornecimento de roupas e alimentos, instalações comunitárias e recreação juvenil são alguns dos recursos essenciais que os movimentos têm efetivamente assegurado desde os projetos Pantera Negra dos anos 60 até os centros populares e anarquistas criados mais recentemente após o Katrina e os furacões Sandy nos EUA.
Mas estes têm de vir de dentro da comunidade. As infraestruturas de resistência fornecem uma base logística para a construção de um amplo apoio. Muitas dessas infraestruturas foram destruídas ou desmobilizadas após a repressão estatal do final dos anos 60 e início dos anos 70. A “guerra contra o crime” ou “guerra contra as drogas” desempenhou um papel nisso, uma vez que a repressão policial foi dirigida precisamente a essas infraestruturas e as pessoas nelas envolvidas, de modo que as comunidades as perderam ou tiveram que redirecionar sua atenção para cuidar dos membros prejudicados pelo Estado.
Como as infraestruturas comunitárias se desmoronam hoje em toda a América do Norte, não faltam bairros e lugares de trabalho para começarmos a atender coletivamente nossas necessidades. Lembre-se, isto não é ativismo. As ações são tomadas porque atendem a necessidades específicas, não para “despertar” as pessoas. A ênfase em especialistas e profissionais em sociedades capitalistas avançadas, e o domínio das burocracias administrativas desencorajam as pessoas a afirmar suas próprias capacidades para a tomada de decisão. As pessoas são condicionadas a buscar conselhos e opiniões de especialistas. Isto é ilustrado pela popularidade dos programas de palestras diurnas como Oprah, Dr. Phil, e pela profusão de literatura de autoajuda na qual os especialistas dizem às pessoas como realizar tarefas básicas da vida.
A socióloga Heidi Rimke observa que esta é uma forma de governança ou auto-regulamentação em regimes políticos neoliberais. Como Goodman observou, isto deixa as pessoas despreparadas para experimentar a liberdade quando surgem oportunidades.
Uma vez que as pessoas vejam as estruturas do sistema como incapazes de atender às necessidades básicas – e as alternativas se tornam disponíveis – elas terão dificuldades para romper com as infraestruturas de resistência.
As batalhas são ganhas ou perdidas antes mesmo de serem travadas. A preparação é fundamental. Deve haver uma capacidade material (recursos, habilidades, experiências etc.) para alcançar vitórias tangíveis; precisamos ser realistas na avaliação de nossas capacidades. As pessoas precisam alcançar os resultados para ter razões para acreditar que sua própria organização e participação ativa dentro das lutas sociais melhorará suas vidas de maneira significativa. Atividades como protestos de rua não podem fazer isso; se nos organizarmos apenas para protestos, só teremos protestos.
Os anarquistas devem ser capazes de ajudar as pessoas e suas comunidades a desenvolver habilidades para atender agora às necessidades materiais que o Estado ou o mercado não podem ou não querem atender. Ao mesmo tempo, devem oferecer espaços nos quais novas formas de relacionamento podem ser praticadas, e nos quais as perspectivas de ir além das estruturas religiosas estatais, capitalistas ou autoritárias podem ser desenvolvidas e debatidas.
De fato, é em parte por apoiar as pessoas em suas comunidades e fornecer os recursos necessários que a Direita religiosa e as igrejas têm ultrapassado a Esquerda em partes da América do Norte, por mais que possamos lamentar suas atividades.
Consideramos radical, no sentido de ir às raízes, o esforço para atender necessidades básicas em um contexto no qual estas são negadas ou confinadas dentro das estruturas do mercado capitalista ou de serviços estatais. Curiosamente chegamos a um ponto em que momentos raros e descontínuos (como um protesto de rua ou um confronto com a polícia) são vistos como radicais, pelo menos pelos ativistas. Estes últimos passaram a dominar a estratégia e a ação do movimento anarquista.
As ideias e práticas anarquistas são importantes para ir além da sobrevivência dentro das condições atuais, particularmente porque a lacuna entre nossas necessidades e o atendimento a elas continua a ser sentida. Os espaços anarquistas poderiam fornecer tanto os recursos necessários quanto as perspectivas para uma mudança mais profunda, mas devem ampliar sua base.
As classes trabalhadoras e os oprimidos precisam de oportunidades para mudar as interações econômicas interpessoais. Assim, precisamos de espaços para praticarmos a cooperação uns com os outros, em vez de sermos obrigados pelas circunstâncias econômicas ou por nossa socialização a agir de forma competitiva ou manipuladora.
Estas práticas, e o estabelecimento de espaços para desenvolvê-las e ampliá-las, são parte do processo de mudança na forma como nos relacionamos uns com os outros (em escalas menores e maiores). Esses esforços concretos funcionam em contraste com as relações capitalistas oficiais e são o que Hakim Bey chamou de Zonas Autônomas Permanentes ou o que os socialistas da Europa nos anos 1920 e 30 chamavam de duplo poder. Para sobreviverem e serem eficazes, eles devem se expandir a partir de terrenos marginais ou subculturas, alcançando uma base mais ampla e oferecendo alternativas reais, em vez de servirem como fugas ou escapes individuais.
Pequenos grupos não podem, apesar dos melhores desejos dos insurrecionalistas, provocar revoltas em massa ou realizar a revolução, ou construir as condições que levarão à rebelião em massa. A insurreição implica em luta armada e isso, na realidade, seria fatal para nossos movimentos neste momento. Há uma necessidade urgente de desenvolver e organizar bases de apoio logístico que possam mobilizar, apoiar e sustentar o que pode se tornar uma luta revolucionária em vez de ver o descontentamento se dissipar em insurreições ou tumultos ineficazes, mas catárticos. Os levantes e rebeliões poderiam então ser prolongados e gerar impactos mais positivos para além da transformação pessoal.
Anarquia logística
Tem sido dito que a logística determina a estratégia. Precisamos dos recursos necessários para que as estratégias tenham consistência. Para movimentos radicais, há muito trabalho logístico a ser feito. Construir infraestruturas de resistência é preparar uma capacidade logística para expandir as lutas contra o Estado e o capital que possam sustentar os efeitos de atos de dissidência ou protesto.
Exemplos significativos vêm das retomadas e bloqueios em terras indígenas, tais como os realizados pelo povo das Seis Nações na Caledônia e os Mohawks em Tyendinaga, Ontário, Canadá, que observei enquanto prestava solidariedade. Diante de ataques armados da polícia, as pessoas das Seis Nações mobilizaram muitos membros da comunidade para retomar suas terras, casas e alimentar uma retomada contínua ao longo de vários anos, construindo infraestruturas no local para manter um espaço comunitário.
Eles contaram com as habilidades e recursos das pessoas enraizadas na comunidade que os compartilharam como parte da luta. Em Tyendinaga, as hortas comunitárias e a prática no fornecimento de alimentos ajudaram a sustentar os esforços para bloquear os projetos de extração de recursos naturais.
A necessidade de preparação e infraestruturas confiáveis é urgente. Portanto, também são os trabalhos para reunir militantes muitas vezes isolados. Como argumentou Paul Goodman, são necessários programas – econômicos, políticos, culturais, logísticos, que possam substituir o Estado e o capital em vez de simplesmente se opor. Em sua opinião, a mudança do programa para o protesto no “ativismo” está condenada a perder. São necessárias muitas infraestruturas amplas, principalmente nas frações oprimidas da classe trabalhadora. Não basta se engajar em trabalhos de agitação, como parece razoável em períodos de desmobilização.
A insurreição sem preparação, sem uma base sólida, é mera fantasia.
Jeff Shantz é militante do movimento comunitário e anarquista em Surrey, Columbia Britânica, Canadá. É autor de Activ Anarchy, editor de Protest & Punishment e compõe o Critical Criminology Working Group. Seu endereço na web é jeffshantz.ca.
A Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria emitiu uma declaração escrita pela ocasião do sexto aniversário da vitória de Kobane sobre o ISIS.
A declaração indicava o seguinte:
“As gangues ISIS se tornaram um grande perigo para o mundo inteiro e a humanidade após ocuparem vastos territórios na Síria e no Iraque e proclamarem a cidade de Raqqa como a capital de seu chamado Califado.
“PONTO DE INFLEXÃO NA LUTA”
A resistência montada contra o ISIS no norte e leste da Síria foi épica. A resistência no norte e no leste da Síria foi uma resposta às ameaças colocadas pelo ISIS contra todos os povos sírios e do mundo. A resistência de Kobane, que resultou na vitória em 26 de janeiro de 2015, foi um ponto de inflexão na luta contra o ISIS. Após esta data, o colapso do grupo terrorista começou. Os povos do norte e leste da Síria receberam força e entusiasmo pela resistência de Kobane até o fim do califado ISIS em Baghoz, em 23 de março de 2019.
O povo de Kobane apresentou o Projeto de Administração Autônoma como uma solução democrática em 27 de janeiro de 2014, e esta experiência se tornou a infra-estrutura do projeto de uma Síria Democrática.
Esta história está cheia de lembranças. Por ocasião do sexto aniversário da vitória de Kobane em 26 de janeiro de 2015 e do sétimo aniversário da declaração da Administração Autônoma de Kobane, comemoramos o heroísmo da resistência de Kobane e os sacrifícios de nossos mártires. A resistência e os sacrifícios se converteram na vontade dos povos de criar uma vida democrática e livre. Na luta contra o terrorismo ISIS, ela se tornou a base para a realização do projeto da Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria.
A vitória de Kobane contribuiu para o enfraquecimento da Turquia e impediu seu projeto de ocupação.
A vitória de Kobane é um legado para o mundo inteiro e para a humanidade, assim como um ganho vital que contribuiu para enfraquecer a Turquia e impediu seu projeto de ocupação e extensão, baseado em apoiar o ISIS. Ficou na cultura da resistência revolucionária global como uma epopeia heroica.
A vontade revelada pela resistência de Kobane tornou-se uma esperança para derrotar o ISIS. Foi fundamental para as forças estadunidenses que lutaram contra o ISIS em Kobane. Como resultado da luta e dos sacrifícios, o 1º de outubro foi declarado como o Dia Mundial de Kobane.
APELAMOS ÀS PESSOAS DA REGIÃO
Como Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria, enfatizamos mais uma vez que o apoio dado pelo Estado turco invasor às gangues mercenárias reaviva o ISIS e outras organizações terroristas na região. Esta situação é uma ameaça para os povos do mundo e prejudica nossas conquistas na luta contra o ISIS. Qualquer um que queira eliminar estas ameaças deve deter os crimes cometidos pelo Estado turco invasor e suas quadrilhas após a ocupação de Afrin, Serêkaniyê e Girê Spî.
A libertação de Afrin, Serêkaniyê e Girê Spî é tão importante quanto a libertação de Kobane.
Fazemos um chamado a todos os povos da região para que Afrin, Kobane e todo o norte e leste da Síria adotem a linha de resistência como base. Esta linha de resistência é a garantia da sociedade democrática do Norte e Leste da Síria e da segurança da região.
Finalmente, saudamos todos os mártires da revolução”.
Lançamos hoje o livro “Florentino de Carvalho – anarco-sindicalismo e educação libertária“, escrito pelo historiador Francisco Pinto de Azevedo. Na obra, Francisco analisa a atuação do anarquismo e do sindicalismo em suas diversas perspectivas especialmente no início da década de 1920, destacando sua adaptação para a realidade latino-americana em geral e brasileira em específico.
O fio condutor de todo o trabalho são os escritos de Florentino de Carvalho – um dos pseudônimos do jornalista e destacado militante anarquista Primitivo Raymundo Soares, nascido na Espanha mas que viveu grande parte da sua vida em território brasileiro. Florentino, colaborador de uma série de jornais operários e autor de diversos livros, observa ainda questões pertinentes para a atuação de coletividades no país, especialmente o conceito de educação e sua prática no plano material.
Nestas 60 páginas, o leitor terá em mãos um rico debate sobre os “outros mundos possíveis”, imaginados e vivenciados nas décadas iniciais do século XX por diversas correntes ideológicas, que erigiam entre os escombros da sociedade burguesa, experiências capazes de impulsionar mudanças reais nas condições de existência das trabalhadoras e trabalhadores do Brasil.
A obra poderá ser adquirida pelo valor de R$ 15,00 com frete grátis para todo o país, através de nossa loja, pelo link em nossa bio do instagram ou em https://linktr.ee/tsa.editora
Durante esses meses anteriores, temos estabelecido contato entre nós por diversos meios. Somos mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis, transsexuais, intersexuais, queer e muito mais, homens, grupos coletivos, associações, organizações, movimentos sociais, povos originários, associações de bairros, comunidades e um longo etc etc que nos dá identidade.
Nos diferenciam e distanciam terras, céus, montanhas, vales, estepes, selvas, desertos, oceanos, lagos, rios, arroios, lagoas, raças, culturas, idiomas, histórias, idades, geografias, identidades sexuais e não sexuais, raízes, fronteiras, formas de organização, classes sociais, poder aquisitivo, prestígio social, fama, popularidade, seguidores, likes, moedas, graus de escolaridade, formas de ser, afazeres, virtudes, defeitos, prós, contras, mas, contudo, rivalidades, inimizades, concepções, argumentações, contra argumentações, debates, desacordos, denúncias, acusações, desprezos, fobias, filias, elogios, repúdios, vaias, aplausos, divindades, demônios, dogmas, heresias, gostos, desgostos, modos e um longo etc etc que nos faz distintos e, não poucas vezes, contrários.
Só nos unem muito poucas coisas:
Fazer nossas as dores da terra: a violência contra as mulheres; a perseguição e desprezo às diferenças em sua identidade afetiva, emocional, sexual; o aniquilamento da infância; o genocídio contra os povos originários; o racismo; o militarismo; a exploração; a espoliação; a destruição da natureza.
O entendimento de que é um sistema o responsável destas dores. O verdugo é um sistema explorador, patriarcal, piramidal, racista, ladrão e criminoso: o capitalismo.
O conhecimento de que não é possível reformar este sistema, educá-lo, limá-lo, domesticá-lo, humanizá-lo.
O compromisso de lutar, em todas as partes e por todas as horas – cada qual em seu terreno –, contra este sistema até destruí-lo por completo. A sobrevivência da humanidade depende da destruição do capitalismo. Não nos rendemos, não estamos à venda e não cederemos.
A certeza de que a luta pela humanidade é mundial. Assim como a destruição em curso não reconhece fronteiras, nacionalidades, bandeiras, línguas, culturas, raças; assim a luta pela humanidade é em todas as partes, todo o tempo.
A convicção de que são muitos os mundos que vivem e lutam no mundo. E que toda pretensão de homogeneidade e hegemonia atenta contra a essência do ser humano: a liberdade. A igualdade da humanidade está no respeito à diferença. Em sua diversidade está sua semelhança.
A compreensão de que não é a pretensão de impor nossa visão, nossos passos, companhias, caminhos e destinos, o que nos permitirá avançar, e sim a escuta e o olhar do outro que, distinto e diferente, tem a mesma vocação de liberdade e justiça.
Por estas coincidências e sem abandonar nossas convicções, nem deixar de ser o que somos, temos concordado:
Primeiro: Realizar encontros, diálogos, intercâmbios de ideias, experiências, análises e avaliações entre aqueles que nós encontramos empenhados, desde distintas concepções e em diferentes terrenos, na luta pela vida. Depois, cada um seguirá seu caminho ou não. Olhar e escutar o outro talvez nos ajudará ou não em nossos passos. Mas conhecer o diferente é também parte de nossa luta e de nosso empenho, de nossa humanidade.
Segundo: Que estes encontros e atividades se realizem nos cinco continentes. Que, no que se refere ao continente europeu, se concentrem nos meses de Julho, Agosto, Setembro e Outubro do ano de 2021, com a participação direta de uma delegação mexicana formada pelo CNI-CIG, a Frente de Povos em Defesa da Água e da Terra de Morelos, Puebla e Tlaxcala, e o EZLN. E em datas ainda a marcar, apoiar segundo nossas possibilidades, para que se realizem na Ásia, África, Oceania e América.
Terceiro: convidar quem compartilha das mesmas preocupações e lutas parecidas, a todas as pessoas honestas e a todos os de abaixo que se rebelem e resistam nos muitos rincões do mundo, a que se somem, aportem, apoiem e participem nestes encontros e atividades; e que firmem e façam suas esta declaração PELA VIDA.
Desde um dos pontos da dignidade que une aos cinco continentes.
Nós.
Planeta Terra.
1 de janeiro de 2021.
Desde diversos, díspares, diferentes, dessemelhantes, desiguais, distantes e distintos rincões do mundo (em arte, ciência e luta em resistência e rebeldia):
Grecia
Alto a la Guerra contra l@s Inmigrantes
Acción Alternativa para la Calidad de Vida
Acción contra la Regeneración y Gentrificación (AARG!)
Adespotos Athinon: equipo deportivo autogestionado y sin dueño (déspota) de la ciudad de Atenas
Agrupación Ciudadana Autónoma de Icaria
Alterthess, medio alternativo
ΑMOQA Museo de Artes Queer de la ciudad de Atenas
Apoyamos a la Tierra
Αsamblea Αbierta de defensa de la arboleda de Agios Dimitrios (municipio de Ag. Dimitrios, ciudad de Atenas, Grecia)
Αsamblea Αbierta de Samos
Asamblea abierta «siembra»
Asamblea Abierta Contra El Desarollo Verde y La Energia Eólica en la Sierra de Agrafa
Asamblea abierta de anarquist@s de la ciudad de Patras
Asamblea Abierta de Lucha de Toumpa (ciudad de Tesalónica)
Asamblea de la Okupa Prosfygika en la ciudad de Atenas
Asamblea de recepción de l@s zapatistas en la ciudad de Corfú
Asamblea de recepción de l@s Zapatistas en la ciudad de Veria
Asamblea de Resistencia y Solidaridad (Kipseli/Patisia) – parque Chipre y Patision str. (Atenas)
Asamblea En Común, por el Decrecimiento, el Comunalismo y la Democracia Directa
Colectivo de anarquist@s del este (ciudad de Tesalónica)
Colectivo de trabajo »Ser colectivxs»
Colectivo feminista “Sabbat Quema a los ricos, no a la bruja”
Comedor Colectivo EL CHEF (Grecia)
Comité de Lucha contra las minas de oro, (pueblo de Megali Panagia, región de Calcídica, Grecia)
Comunidad Cooperativa de Autosuficiencia “Apo Koinou”
Confrontacion, grupo de comunist@s
Cooperativa »To Kivotio», ciudad de Rethimno – isla de Creta
Cooperativa de Comercio Solidario “SYN ALLOIS”
Cooperativa de trabajador@s VIOME (Grecia)
Cooperativa de Trabajo PAGKAKI (ciudad de Atenas)
Cooperativa Syn-trofi de la ciudad de Rethimno-Creta
Coordinación de Asambleas Vecinales en Atenas (Asamblea Popular Abierta de Peristeri, Asamblea Abierta de residentes de Agia Paraskevi, Asamblea Abierta de residentes de Petralona-Thiseio-Koukaki)
Coordinación de la ciudad de Ioannina para el viaje de l@s zapatistas a Europa
Coordinación de la ciudad de Tesalónica para el viaje de l@s zapatistas a Europa
Coordinación de la ciudad de Volos para el viaje de l@s zapatistas a Europa (Grecia)
Coordinación del Peloponeso para el viaje de l@s Zapatistas
Desobediencia de género
Editorial de extranjer@s (editorial colectiva en la ciudad de Tesalónica, Grecia )
El Coro Intercultural de Lesvos «CANTALALOUN» (isla de Lesvos ,Grecia)
El Pequeño Árbol que se convertirá en Bosque (ciudad de Tesalónica,Grecia)
Encuentro Autónomo de Lucha contra las represas y la desviación del río Aqueloos (Grecia)
Escuela de Permacultura y Academia Autónoma (Grecia)
Espacio Autogestionado «Epi ta Proso (Hacia Adelante)» (ciudad de Patras, Grecia)
Espacio Autogestionado de Karditsa
Espacio de los Movimientos – Local para l@s inmigrantes (ciudad de Volos, Grecia)
Espacio libertario y publicaciones “Aftoleksi” (Grecia)
Espacio Social Abierto del Xanadu
Espacio Social Autogestionado del Pasamontaña
Espacio social de Paratod @ s (miembros y particulares) (ciudad de Larisa, Grecia)
Espacio Social Libre Nosotros (ciudad de Atenas, Grecia)
Espiral de solidaridad – semilla de Resistencia
Estrógenas (Grecia)
Estructura de Salud Autogestionada de Exarcheia (ciudad de Atenas, Grecia)
Eutopia: Ciclo de acción para el municipalismo libertario (Grecia)
Federación Anarquista (Grecia)
Femctoria por la difusión del feminismo de clase (Grecia)
Geppetto Cooperativa (Grecia)
Glub político Lesxi Aneresis de Tesalónica, (ciudad de Tesalónica, Grecia)
Grupo anarquista “Baruti” (ciudad de Veria, Grecia)
Grupo Anarquista “Disinios Ippos” (caballo indomable) (Patras- Grecia)
Grupo Anarquista “Iterimpia”
Grupo de Salud Mental -¬ Covid19: Solidaridad de Tesalónica, (ciudad de Tesalónica, Grecia)
Grupo de Teatro del Oprimido, “boalitaria” (Grecia)
Grupo político “Camino Libertario” (Grecia)
Guerreros del agua
infolibre.gr – cooperative media for independent information (medio cooperativo para la información independiente) (ciudad de Thessaloniki, Grecia)
Iniciativa Antifascista de Lesvos – contra los centros de detención (isla de Lesvos – Grecia)
Iniciativa Antiracista de la ciudad de Larisa, (Grecia)
Iniciativa de Atenas contra las extracciones de hidrocarburos
Iniciativa de Atenas para la protección de Ágrafa
Iniciativa de habitantes de Kalamata
Iniciativa de Lucha por la Tierra y la Libertad (ciudad de Atenas-Grecia)
Iniciativa de Trabajadorxs y Desempleadxs en la educación privada (Grecia)
Iniciativa Libertaria “Ágria Neda”
Iniciativa para la protección del medio ambiente de la región de Kavala (Grecia)
Jardín Botánico de Petroupolis (municipio de Petrupolis, ciudad de Atenas, Grecia)
Kukuva, Empresa Social Cooperativa de Beneficio Colectivo y Social
LA PEONZA, cooperativα de economía solidaria (ciudad de Atenas- Grecia)
La vieja escuela de Ormos, isla de Samos(Grecia)
Laboratorio Libertario de infraestructura de movimiento (Grecia)
Las ediciones de colegas (ciudad de Atenas,Grecia)
La Cuña Centro político, social y cultural autogestionado de la ciudad de Tebas
Livas Club de Futbol Autogestionado
Local Anarquista UTOPIA A.D.
Local Autónomo de la ciudad de Kavala
Local Autónomo de la ciudad de Xanthi
Local para l@s inmigrantes- Centro Social (ciudad de Atenas)
Mano Aperta: comedor social y autogestionado
Mercado autónomo de Volos (ciudad de Volos)
Μovimiento Αnti-autoritario de Atenas
Movimiento Antiautoritario de Larisa
Movimiento Antiautoritario de Tesalónica (ciudad de Tesalónica)
Movimiento Antifascista de Kalamata
Movimiento Antifascista de Samos
Movimiento Ciudadano de Volos-Pelion para agua (Ciudad de Volos y Pelion)
Movimiento Ciudadano Rajes Icaria
Movimiento de personas que escuchan voces
Μujeres Defendiendo Rojava Comité de la ciudad de Atenas
Odo, Colectivo colectivo libertario
Ocupa de “Analipsis”
Ocupa de “Apertus”. Espacio Social Libre de la ciudad de Agrinio
Ocupa de “Dougrou” (ciudad de Larisa)
Ocupa de “Libertatia”
Ocupa de “Matsangou” (ciudad de Volos)
Ocupa de “Mundo Nuevo”
Ocupa de “Patmos y Karavia”
Ocupa de “Tierra Desconocida” (ciudad de Tesalónica)
Ocupa de Rosa Nera, (ciudad de Canea, isla de Creta)
Ocupa Lelas Karagianni 37 (LK37) (ciudad de Atenas)
Optikamultietnica
Organización Política Anarquista – Federación de Colectivas
ΟΧΟ (Grupo Sin Nombre)
Piso Thrania Iniciativa de educación sin discriminación
Plotinos (Isla de Quios – Grecia)
Red de “Mesochora – Acheloos SOS”
Red de Derechos Políticos y Sociales
Red de Movimientos por Tierra y Libertad
Red Solidaria de Clínicas Sociales de Exarcheia, N Smyrni, Ilio y Agios Nektarios en la ciudad de Volos (Grecia)
Revista Política Babylonia
Spori: Asociación de ciudadan@s por el estudio de la educación libertaria (ciudad de Rethimno, isla de Creta, Grecia)
Sporos – Semilla (isla de Lesvos)
Tienda cooperativa “Hochlios”
Unión Sindical Libertaria de la ciudad de Ioannina
Unión Sindical Libertaria de la ciudad de Atenas
Unión Sindical Libertaria de la ciudad de Rethimno
Unión Sindical Libertaria de la ciudad de Tesalónica
Vacio Ciclo-Miembro de la Federación Anarquista
Women’s initiative against depth and austerity measures Thessaloniki, Grecia) (ciudad de Tesalónica)
Bonita, Papastathi
Chryssikopoulou, Maro
Geroy, Katia
Dimitris, S.
Istres, Jacques
Kapadelis, Panagiotis
Katzourakis, Kyriakos
Kouniaki, Eugenia
Mouka, Nikoletta
Siafliaki, Iro
Thalia P.
Tomsin, Marc
Alemania
AG Ventana al Sur
AK Asyl Göttingen
Alerta! – Lateinamerika Gruppe Düsseldorf
Attac Frankfurt
Borderline-europe Human Rights without Borders e.V.
Campaña cafe mesoamericana
Carea e.V.
Colectivo gata-gata
Colectivo Konfront
Collectif kom.post
DunyCollective
Feministische Organisierung für Selbstbestimmung und Demokratische Autonomie
Flüchtlingscafe Göttingen
Frauen * Streik Bündnis
Freie Arbeiter * innen-Union
Fridays for Future Frankfurt am Main
Gärtnerei Ra.Baba
Gruppe B.A.S.T.A.
Gruppe B.A.S.T.A. Berlin
Guerrero, Christa
Holtmann, Susann
Informationsbüro Nicaragua
Internationalistisches Bündnis Frankfurt a.M.
Jineolojî Komitee Deutschland
Kaffeekollektiv Aroma Zapatista
Kampagne «Grüne Lunge bleibt – Instone stoppen!»
Kollektiv Transgalaxia
KOMMUJA – Red de comunidades solidarias
Mietshäusersyndikatsprojekt Grafschaft 31 Münster
Ökologisch-Radikal-Links Frankfurt
Onbones Collective – Fairdruckt eG
Our House #OM10
Partner Südmexikos e.V.
Perspektive Rojava – Solidaritätskomitee Münster
Prison´ Dialogue- Frauen AG
Projekt Knotenpunkt Schwalbach
Red Ya-Basta-Netz
Riseup 4 Rojava Frankfurt a.M.
Roots of compassion eG
ROSA – Revolutionäre Linke
Tres Gatas – producción en Colectivo
Undogmatische Radikale Antifa
Unrast Verlagskollektiv
Wohnprojekt Grafschaft 30 e.V.
Women Defend Rojava Deutschland
Women defend rojava Frankfurt am Main Deutschland
WUMS-Kollektiv
Ya Basta Rhein Main
YXK Frankfurt a.M.
Zwischenzeit e.V. – Initiative für soziale, interkulturelle und ökologische Forschung, Analyse und Bildung
Daddy Longleg
Ende Gelände
Massiah, Gustave
Schmidt, Edo
Francia
Agate, armoise et salamandre – corps et politique
èssi Dell’Umbria
Anne Hocquenghem et les acheteurs de café du sud-est du massif central en France
Associacion Espoir Chiapas
Association AMERICASOL du réseau Escargot
Association GERMINAL
Association ONYVA
Association SOL’QUERCY du RESEAU ESCARGOT
Caen Entraide Populaire
Caracole
CDP13
Coignard, Elisabeth
Colectivo Mi abuelita
Collectif «Coordinacion DZLN
Collectif Chiapas Ariège
Collectif de l’Université populaire de la Terre
Collectif des Immigrants en France (C.I.F.)
Collectif douarneniste en lutte pour les solidarités
Collectif féministe Les Rosies d’A cause de macron
Collectif Grains de Sable
Collectif inter-collines des 2 rives de la rivière Aveyron
Collectif Mutvitz11
Collectif surnatural
Comité Amérique latine de Caen – Normandie
Comité Amérique latine du Calvados
Comité d’accueil intergalactique de la zad de Notre-dame-des-Landes
Comité d’Accueil Sud Est France PACAZ
Comité de coordination des 17 contre la réintoxication du monde
Comité de Solidarité avec les Indiens des Amériques (CSIA-Nitassinan)
Comité de Solidarité avec les Peuples du Chiapas en Lutte (CSPCL)
Comité Populaire Quartier Latin
Compañía Jolie Mome
Compañía Isidoria
Confédération paysanne
Coordination des sans papiers 75
Corsica Internaziunalista
CSPN (Collectif de solidarité avec le peuple du Nicaragua de Francia)
DAL-Droit au logement
CNT-F
Des femmes de la montagne Limousine
Échanges Solidaires
Editions Divergences
Éditions Libertalia
El Cambuche de Toulouse
Ensemble Finistère! Ensemble 29!
Fondation Frantz Fanon
Foro Cívico Europeo
France Amérique Latine
Front Uni des Immigrations et des Quartiers Populaires
Gilets Jaunes de Montreuil
Gilets jaunes Les Lilas
Groupe Henri Laborit de la Fédération Anarchiste
GROUPE LIBERTAD DE LA FEDERATION ANARCHISTE
Groupe toutes en grève
Jean-Jacques M’U
Initiativ Oury Jalloh Allemagne et la CISPM
InterLieuxInterCollectifs Montreuil
Kafe kapel, red escargot
L’espace autogéré des Tanneries
L’Union Communiste Libertaire
La Bad’j
La Compañía Tamerantong
La Gueule ouverte
La Maison Ouverte Montreuil
La Parole Errante Demain
La Révolution est en marche
«Laboratoire Autonome de Biologie : Alternatif, Solidaire et Expérimental (LABASE)»
Le BIB-Hackerspace
Le collectif «Chabatz d’entrar»
Le Front Uni des Immigrations et des quartiers Populaires (FUIQP)
Le Quartier libre des Lentillères
Le Surnatural Orchestra
Les Communaux
Les Gilets Jaunes de Pantin
Lesconstituants78
l’association Fraternité Douarnenez
Mani Rosse Antirazziste
Marseille avec les Grecs
Mouvement Contre le Crime Atomique Colectivo
Mut Vitz 13
MUT VITZ 31
Mut-Vitz 34
PEPS (Pour une écologie Populaire et Sociale)
Primitivi
Producciones Débrid’arts
Producciones Djab
Rédaction de CERISES LA COOPÉRATIVE
Renaud
Revue Chimères
Revue De(s)générations
Séminaire «Penser les décolonisations»
Solidaires09
Solidarité migrants Wilson
STE-75 Syndicat des travailleurs.euses de l’éducation Paris
Surnatural Orchestra, groupe de musique
Syndicat CNT Éducation Social-Services 34
Syndicat CNT INTERPROFESSIONNEL de l’Ardéche
Tatcha compagnie
Terrestres. Revue des livres, des idées et des écologies
Toulouse Anti CRA
UCL Caen
Union Départementale des syndicats CNT de Haute-Garonne
Union Syndicale Solidaires
Alliez, Éric
Annette Revret
Arsenault, Judith
Assael, Ivan
Astolfi, Nathalie
Ateya, Rim
Attac France
Bachkine, Patricia
Bajon, Jean Baptiste
Baschet, Jérôme
Berling, Maïa
Bertille, Gendreau
Besancenot, Olivier
Beynel, Eric
Bohet, Odile
Boitière, Isabelle
Bonfanti, Brice
Bonvalet-Girou, Thomas
Bosson, Marc
Buisson, Manon
Candore, Marco
Casillas, Jeanne
Castillo, Carmen
Catelain, Jennifer
Causeries Populaires
Chao, Antoine
Chirón, André
Cibele
Corcuff, Philippe
Dardot, Pierre
de los Santos, Marie
Dekel, Tom
Demoron, Sandrine
Dervin, Alain
Desclozeaux, Aurelien
Diawarra, Youssef
Duran, David
Faucheux, Grégoire
Fautrier, Pascale
Fraunié, Laurent
Gaillanne, Fanny
Galasso, Franca
Gau, Gabriel
Gaudichaud, Franck
Gerschel, Anne
Gianinazzi, Willy
Gilles Bertrand
Giner, Stephanie
Glowczewski, Barbara
Godard, Alice
Godard, Carine
Godard, François
Goutte, Guillaume
Guest, Andreas
Hansma, Marie-Christine
Hélier, Odile
Hocquenghem, Joani
Ibañez, Amparo
Jacob, Mat
Jacques Istres
Jappe, Anselm
Jean-Louis Tornatore
Kempf, Joseph
Krzywkowski, Isabelle
Lagneau, Antoine
Latorre, Paule
Latouche, Serge
Laure de Saint Phalle
Le Bot, Yvon
Long, Olivier
Longo Mai
Lopez, Francis
Loutre Barbier, Laurence
Lowy, Michael
Madame Miniature
Marin, Maguy
Martinot, Alex
Mathieu, Dominique
Mavic, Béatrice
Maymat, Philippe
Melo St-Cyr, Viviana
Mesnard, Cécile
Michèle Leclerc-Olive
Monique Amade
Monsieur Jack
Mourrat, Philippe
Navajo, Métie
Normandon, Aurélie
Nugon, Arièle
Odille, Laurie
Pailler, Aline
París Ayotzinapa
Parrot, Karine
Pellicane, Christine
Perez, Ampari
Piet, Sarah
Pirou, Fanny
Prieur, Sébastien
Quillateau, Patrick
Rafanell iOrra, Josep
Robin, Vincent
Romanet, Martine
ROME, Daniel
Roux, Fatima
Salvatori, Jeannot
Salama, Pierre
Sardinha, Diogo
Saurin, Patrick
Secheppet, Camille
Sechet, Sylvain
Soussi, Claire kachkouch
Straeli, Celia
Studer, Jeanne
Tefnin, Garance
Tiburcio, Nicco
Toulouse, Rémy
Triantaphylides, Paul
Untereiner, Jean Luc
Varikas, Eleni
Viennot, Sarah
Vollaire, Christiane
Yoga Nomade
Yvette Dorémieux
Collectif la Digne Rage de Lille
Centre Culturel Libertaire
Association Unidos
Compagnie de théâtre Proteo
Torre Latino Radio.
País Vasco
Abantoko Talde Feminista
Basoa, Defendatsaileen etxea
Bizilur – Lankidetzarako eta Herrien Garapenerako Erakundea
EH Bildu Abanto
Eskozap Kolektiboa
Etxalde – Nekazaritza Iraunkorra
Euskal Herriko Emakumeon Mundu Martxa
Fundación Paz y Solidaridad de Euskadi
Gabiltza
Gogoaren indarra taldea Las Karreras
Harri Barri Kultur Elkartea
Karabana Mugak Zabalduz
Lumaltik Herriak
Mugarik Gabe
Mujeres del Mundo Babel / Munduko Emakumeak
Plataforma Ongi Etorri Errefuxiatuak
Radio Alegría Libertaria
Tadamun elkargunea
TxiapasEKIN kolektiboa
Zabaldi elkartasunaren etxea
Muguruza, Fermin
Perales Arretxe, Iosu
Austria
Kinoki Asociación Autogestión Audiovisual
Bélgica
Actrices et Acteurs des temps présents
Ad Lilithum
ADES
Capitane Records
Casa Nicaragua
Centre Tricontinental (CETRI)
Écologie sociale Liège
Collecti.e.f 8 maars Bruxelles
Collectif de Solidarité Liège-Rojava
Collectif KAWAZ
Collectivo Mala Hierba
Comité Chiapas Bruselas
Comité Jineolojî Europa
Groupe CafeZ, Liège
Jineolojî Center
L’Union Communiste Libertaire
La Santé en Lutte
Le DK
Sororidad Sin Fronteras
VaVeA Semeurs de Possibles
Zablière – ZAD Arlon
Chauvier, Maïa
Coppens, Diego
Despret, Vinciane
Diaz Aranda, Karmen
Duterme, Bernard
Eric Toussaint CADTM internacional
Fox, Ivan
Geert Carpels
Gerardy, Martine
Mekhitarian, Juliette
Quinoa Bruxelles
Vaneigem, Raoul
Bulgaria
Iniciativa de apoyo a l@s zapatistas
Cataluña
Adhesiva Espai de Trobada i Acció
Asociación Mujeres Migrantes Diversas
Associació Cultural el Raval «El Lokal»
Associació Entrepobles
Associació Solidaria Cafè Rebeldía-Infoespai, Barcelona
Ateneu Candela
Ateneu La Torna
Ateneu Popular La Falç
Ateneu Popular Rocaus
Azadi Jin
Azadi Plataforma de Solidaritat amb el Poble Kurd
Cal Cases
Can Tonal de Vallbona
Col•lectiu Maloka
Colectiva Katari
COLECTIVO Pallasos en Rebeldía de Catalunya
Ecoxarxa del Bages
Espai defensa legal Manresa
Fundació Salvador Seguí
Grup de consum autogestionat Pinyol Vermell
Horts Comunals de Sant Celon
La Garriga Societat Civil
La Pallejana
LA RAVAL. Cooperativa d’habitatge generacional a Manresa
Mediterranea Saving Humans
Plataforma d’Afectades per l’Habitatge i el Capitalisme del Baix Montseny
Poc a Coop
Sindicato Popular de Vendedores Ambulantes de Barcelona
Taula per Mèxic
Xarxa de Suport Mutu de la Trini
Bosqued, Àngel
García Sanagustin, Carina
González, Ixchel
Pere Ortín, Andrés
Villalobos, Juan Pablo
Chipre
300000 Arboles en Nicosia
Aeriko en las montañas de Troodos-por la justicia social y ambiental
antifa λευkoşa
Centro Social «Kaymakkin»
Club Atlético Popular «Omonoia»
Colectivo «Ramona»
Colectivo Ecopolis
Iniciativa para el Rescate de costas naturales
Movimiento de Izquierda, Queremos Federación
PUERTA 9 OMONOIA
Sispirosi Atakton
Spirithkia
Escocia
Coordinadora Zapatista North UK
Eslovaquia
Akimov, Ivan
Kesaj Tchave
Europa
ASSI (Acción Social Sindical Internacionalista)
Colectivo iraní Andeesheh va Peykar
Coordinadora Europea De Via Campesina
CUP Exterior
Flor de la palabra – colectivo de traducción de la sexta francófona
Mujeres y Disidencias de la Sexta en la Otra Europa y Abya Yala – Red de Resistencia y Rebeldía
Never again 88
Watch the Med Alarm Phone
Louis, Camille
Philippe Cordier
Inglaterra
Coordinadora Zapatista North UK
Hunter Dodsworth, Siân
Irlanda
Talamh Beo
Noruega
Alerta
Chiapasgruppa LAG
CROTONICX v/ Loan TP Hoang
Karlsøyfestivalen
Kvinneutvalget (LAG)
LAG Noruega
Latin-Amerikagruppene i Norge (LAG)
López Kunst & Produksjoner
Motmakt
Bokkafe, Anarres
Fadnes, Åse
Fadnes, Astrid
Fadnes, Ingrid
Gulli, Marianne
Haugdahl Solberg, Inga
Haugsnes, Vilde
Heiret, Yngve Solli
Luna Evjen, Solveig
Muñoz Llort, Sonia
Pålsrud, Mads
Pedersen, Ole
Solberg, Jarl
Thamdrup Lund, Herman
Watn, Bård
Nigeria
Engert, Klaus
Portugal
Jornal MAPA
Rádio Paralelo
Revista Flauta De Luz
Cunha, António Eduardo
Pereira Ribeiro, Natacha Alexandra
República Checa
Družstvo Black Seeds
Kolektiv 115
Rusia
Cooperativa Molotov
Svora collective
Severnaja, Ekaterina
Saepmie, pueblo Saami
Fjellheim, Eva Maria
Suiza
Bloque Feminista Abya Yala Suiza
C.S.O.A. il Molino
Casa Colectiva de Malagnou
Ceibavieja
Circolo Carlo Vanza Bellinzona
Collectif Breakfree Suisse
Collettivo R-Esistiamo
Collettivo Zapatista di Lugano
Direkte Solidarität mit Chiapas
Encuentro Feminista Zapatista Zürich/ Basel
Grève du Climat Genève
Groupe écosocialiste de solidaritéS
Grupo de Coordinación zapatista del territorio suizo
HumanrightsChiapas Suiza
Jeunes POP Genève
Mouvement pour une agriculture paysanne et citoyenne
Théâtre Tête dans le sac – marionnettes
Voce Libertaria Ticino
Women Defend Rojava Zürich
Gioventù Biancoblu
Togo
Les compas de Kpalimé
Adjetey, Rudy
Estado Español
Confederación General del Trabajo (CGT)
CNT Fraga
CNT Sierra Norte
Afromurcia en Movimiento
Asamblea Plaza de los Pueblos
Asociación Brasileira Maloka
Asociación en medio de abril
Assemblea de Solidaritat amb Mèxic del País Valencià
Centro de Documentación sobre Zapatismo (CEDOZ)
Centro Social La Ingobernable
Centro Social La Villana de Vallekas
CNAAE (Comunidad Negra, Africana y Afrodescendiente en España)
COLECTIVO Pallasos en Rebeldía de Galicia
COLECTIVO Pallasos en Rebeldía de Madrid
Confederación Sindical Solidaridad Obrera
Coordinación Baladre
Coordinadora de Desemplead@s y Precari@s de la Comunidad de Madrid
Derechos Humanos Madrid
Ecologistas en Acción
Espacio Común 15M
Esteve Morlan, Tirso
FIRMES Federación Internacional de Resistencia Migrante en España.
Foro Social de Segovia
Fundación de los Comunes
La Casa Invisible
La Medusa Colectiva
Luisa Martín Rojo
Lumaltik Aragón
Madrid 43 Ayotzinapa
Org. Anticapitalistas
Partido Socialista Libre Federación PSLF
Red de Hondureñas Migradas en España
Redal Montané, Clara
REVISTA VIENTO SUR
Solidaridad con el pueblo Mexicano-Málaga
Synusia
TRAWUNCHE MADRID
Yretiemble
Amorós, Miguel
Ibáñez, Tomás
Taibo, Carlos
Capanegra, Juan Carlos
Carretero Miramar, José Luis
Claveria Iranzo, Olga
De Lera López, Cristina
González de Chávez Fernández, Teresa
Gonzalo Serrano, Andrés
Gonzalo, Pilar
Héctor Grad Fuchsel
Humanes Bautista, José Luis
Martín, Fátima
Merino Escribano, Rosa
Otero González, Isabel
Pastor, Jaime
Pérez Orozco, Javier
Roitman Rosenmann, Marcos
Italia
A.N.P.I. Associazione Nazionale Partigiani Italiani
ADL COBAS
All Reds Rugby Roma
Altro Modo Flegreo
Ambasciata dei Diritti delle Marche
Ambiente&Salute
Annestus – Agoa
ARCI Noerus
Ardita Due Mari
Assalti Frontali
Assemblea Antirazzista Antifascista Di Vicofaro
Associazione «Cultura È Libertà
Associazione ATTAC Italia
Associazione Casa dei Popoli
Associazione centro socio culturale ARARAT a Roma
Associazione Città Migrante
Associazione Culturale GIShub
Associazione di Promozione Sociale
Associazione Giuseppe moscati Parrocchia San Sabino
Associazione Jambo- commercio equo Fidenza Italia
Associazione Nova Koiné
Associazione politico-culturale Tempi Post Moderni
Associazione Senza Barriere Due
Associazione senza paura Genova
Associazione Taiapaia
Associazione Verso il Kurdistan e Rete Jin
Associazione Ya Basta Caminantes Padova
Associazione Ya Basta Moltitudia Roma
Associazione YA BASTA! ÊDÎ BESE Y Centri Sociali del Nordest
Associazione Ya Basta! Milano
Associazione YaBasta! – Casa Della Solidarietà Sabino Romano
Ateneo Libertario
Azione Antifascista Roma Est
Brigata Sanitaria Soccorso Rosso
Brustolin, Maryline
Buscemi, Marquito
C.S.A NEXT EMERSON
Cadtm (Comitato per annullamento debiti illegittimi)
Camera del Non Lavoro
Cantiere
Carovane Migranti
Casa Bettola
Casa dei Circoli, Culture e Popoli
Casa Dei Diritti Dei Popoli
Casa del Popolo Campobasso
Casa della Cooperazione
Casa delle Donne di Milano
Casa delle Donne Lucha y Siesta
Casa delle Donne-Nudm
Casa Madiba Network
Cattive Ragazze
Centro giovanile Batti il tuo tempo
Centro Sociale Anomalia
Centro sociale Anomalia Palermo
Centro sociale autogestito «INTIFADA» Empoli (FI)
Centro Sociale Autogestito Magazzino47
Centro Sociale CasaLoca
Centro Sociale Occupato Autogestito «Angelina Cartella»
Centro Sociale Tpo
Chichimeca
CIAC ( centro immigrazione, asilo, cooperazione internazionale)
Circolo «D. Lazzari» di Legnano
Circolo ANPI Renato Biagetti
Circolo ARCI Barbun KM0
Circolo Arci Nausicaa
Circolo Fratellanza Casnigo
Ciss-ong Palermo
Clown Army Roma
COBAS Confederazione dei Comitati di Base
COBAS Napoli
Collettiva Una volta per tutte
Collettivo 20ZLN
Collettivo Caffè Malatesta
Collettivo Femminista Lotto
Collettivo Lsoa Buridda
Collettivo Nodo Solidale
Collettivo Popolare «Ramona»
Collettivo redazionale della rivista LEF Libertè Egalitè Fraternit
Comitato Abitanti San Siro
COMITATO AMIG@S MST
Comitato antirazzista cobas Palermo
Comitato Chiapas «Maribel»
Comitato Città Vecchia Taranto
Comitato Jineoloji
Comitato Madri per Roma Città Aperta
Comitato No Muos – No sigonella
Comitato per non dimenticare Abba
Comitato Piazza Carlo Giuliani
Comitato Roma Xii Per La Costituzione
Comité por la Anulación de la Deuda del Tercer Mundo
Colectivo Paso Doble en Apoyo al Congreso Nacional Indígena – Concejo Indígena de Gobierno
Colectivo Rural Urbano Asociaçao Oeste (Diadema)
Colectivo Rural Urbano Solidaridad Orgánica
Colectivo Tierra y Libertad
Colectivo Transdisciplinario de Investigaciones Críticas.
Colectivo Zapatista Neza
Comité Estudiantil Metropolitano (CEM)
Comité Promotor Todos Unidos Contra el Nuevo Aeropuerto Internacional de la Ciudad de México (NAICM)
Comunidad Circular AC de Ensenada BC.
Comunidad Indígena Otomí residentes en la CDMX
Cooperativa Hierba Crecida
Cooperativa Tlapaltik
Coordinación de Familiares de Estudiantes Víctimas de la Violencia
Defensores de Tierra y Agua, municipio de Juan C. Bonilla
Desde las Nubes
EcoRed Feminista La Lechuza Buza
Editorial En cortito que’ s pa’ largo
Ediciones del Espejo Somos
El Bordado de Ramona
Enlace Civil
Escuelita Autónoma Otomí
Espacio de Lucha contra el Olvido y la Represión (ELCOR)
Etcétera Errante
Fémina Fatal
Frente de Trabajador@s por el Derecho a la Salud y a la Seguridad Social
Frente del Pueblo Resistencia Organizada, FPRO
Fuerzas Unidas por Nuestros Desaparecidos (as) en Nuevo León
Grietas en el Muro
Grupo de Acompañamiento Político a la familia de Lesvy Berlín Rivera Osorio
Grupo de Teatro «Los Zurdos»
Guardianas y Guardianes del Río Metlapanapa, pueblos de Ometoxtla, Coronango, Almoloya, Nextetelco, Texintla, Xoxtla, Zacatepec y Cuanalá México
Instituto Cultural Autónomo Rubén Jaramillo Ménez (Morelos)
La Bisagra TV
La red del oriente del Estado de México. Resistencia y rebeldía
La Voladora Radio
La Voz del Anáhuac / Trabajadores y Revolución
Laboratorio Popular de Medios Libres
Manu Mayeg A.C
Médicos del Mundo Suiza, Misión México
Mexican Sound
Mexicali Resiste
Meza de Café Zapatista UAM-Iztapalapa
Movimiento al Socialismo, Sección mexicana de la Unidad Internacional de las y los Trabajadores-Cuarta Internacional
Movimiento de Aspirantes Excluidos de la Educación Superior (MAES)
Movimiento Democracia Directa (MDD)
Mujeres que luchan CDMX
Mujeres que Luchan Jrz
Mujeres que Luchan, Resisten y se Organizan
Mujeres y la Sexta
Nodo de Derechos Humanos
Noticias de abajo y Laboratorio Popular de Medios Libres
Nueva Central de Trabajadores
Obeja Negra
Organización Nacional del Poder Popular-PRP
Organización Popular Francisco Villa de Izquierda Independiente
Panteón Rococó
Participantes CompArte “Báilate otro mundo”:
Partido de los Comunistas
Partido Revolucionario del Pueblo
Patrulla Roja
Plantón por los 43 de la ciudad de México
Poesía y Canto
Promotores Culturales ReintegrArte
Proyecto Libre: Educación y Autonomía
Radio Zapote
Red de Apoyo Iztapalapa Sexta (RAIS)
Red de feminismos descoloniales
Red de Mujeres “Porque Acordamos Vivir”
Red de Rebeldía y Resistrenzas
Red de Resistencia y Rebeldía Altas Montañas
Red de Resistencia y Rebeldía de Acámbaro
Red de Resistencia y Rebeldía Jo’
Red de Resistencia y Rebeldía región Este de Guanajuato de Resistencia y Disidencia Sexual y de Género
Red Universitaria Anticapitalista
Regeneración Radio
Residentes de la Honorable Casa Nacional del Estudiante
Resistencias Enlazando Dignidad – Movimiento y Corazón Zapatista
Revista FLUIR
Sector de Trabajadores Adherentes a la Sexta Declaración
Sexta Teatrito Mérida
Shakti ArtEscena S.C.
Sindicato de Trabajadores Académicos de la Universidad Autónoma Chapingo (STAUACh)
Sindicato Mexicano de Electricistas
Skaffo LaFaro
Surco Informativo
Tejiendo Organización Revolucionaria (TOR)
Tlanezi Calli (Casa del Amanecer)
Unión Popular Apizaquence Democrática e Independiente (Upadi)
Universidad de la Tierra-CIDECI, México
Universidad de la Tierra (Oaxaca)
UPREZ Benito Juárez
Urdimbre audivisual
Voces del Viento
Yoloxóchitl-Flor del corazón. Espacio para la salud comunitaria
Zapateando Medios Libres
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Aguascalientes
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Ciudad de México
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Colima
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Guadalajara
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Hidalgo
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN La Laguna
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN León
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Mazatlán
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Morelia
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Nuevo León
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Puebla
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Querétaro
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN San Luis Potosí
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Sinaloa
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Tlaxcala
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Tijuana
Equipo de Apoyo a la Comisión Sexta del EZLN Zacatecas
Desde las montañas del Sureste Mexicano.
Por las mujeres, hombres, otroas, niñ@s y ancian@s del
Ejército Zapatista de Liberación Nacional:
Comandante Don Pablo Contreras y Subcomandante Insurgente Moisés.
México.
Se você(s) que(em) assinar esta Declaração, manda tua assinatura para firmasporlavida@ezln.org.mx. Por favor, informe o nome completo de seu grupo, coletivo, organização ou que seja em seu idioma e sua geografia. As assinaturas serão agregadas conforme vão chegando.
Calendário? O atual. Geografia? Qualquer rincão do mundo.
Você não sabe muito bem porquê, mas caminha pela mão de uma menina. Está a ponto de lhe perguntar para onde se dirigem, quando passam em frente a uma grande lanchonete .Um grande letreiro luminoso, como a marquise de um cinema, declara: “A HISTÓRIA COM LETRAS MAIÚSCULAS. Bar e Lanchonete”, e mais embaixo “Não se admitem mulheres, crianças, indígenas, desempregados, outroas, anciãos e anciãs, imigrantes e demais descartáveis”. Algumas mãos brancas agregam “In this place, Black Lives does not matter”. E outra mão varonil adicionou: “Mulheres podem entrar se se comportam como homens”. Ao lado do estabelecimento, se amontoam cadáveres de mulheres de todas as idades e, a julgar pelas roupas feita em farrapos, de todas as classes sociais. Você se detém e, resignada, a menina também. Despontam porta à dentro e vêem uma desordem de homens e mulheres com modos muito masculinos. Sobre o balcão ou mostrador, um varão maneja um taco de beisebol e com ele ameaça à torto e a direito. A multidão está claramente dividida: de um lado aplaudem e do outro vaiam. Todos estão como bêbados: o olhar furioso, a baba escorrendo pela barba, o rosto avermelhado.
Se aproxima de você quem deve ser o porteiro ou algo assim e lhe pergunta:
Quer entrar? Pode escolher o bando que goste. Quer aplaudir ou criticar? Não importa qual escolha, lhe garantimos que terá muitos seguidores, likes, polegares para cima e mais aplausos. Você será famoso acaso lhe ocorre algo genioso, seja a favor ou contra. E ainda que não seja muito inteligente, basta que faça ruído. Tampouco importa se é verdadeiro ou falso o que grite, desde que grite forte.
Você avalia a oferta. Lhe parece atrativa, sobretudo, agora que nem mesmo o cachorro segue você.
É perigoso? Você aventura com timidez.
O segurança o tranquiliza: De maneira alguma, aqui reina a impunidade. Veja você quem está batendo neste turno. Diga qualquer besteira e uns lhe aplaudem e outro o criticam com outras besteiras. Quando essa pessoa terminar seu turno, outra subirá. Já lhe disse antes que não é preciso ser inteligente. E mais, a inteligência aqui é um estorvo. Anime-se. Assim se esquece das enfermidades, da catástrofe, da miséria, das mentiras feitas pelo governo, do amanhã. Aqui a realidade não importa em realidade. O que vale é a moda do turno”.
Você: E o que discutem?
Ah, qualquer coisa. Ambos lados se empenham em frivolidades e idiotices. Como se a criatividade não fosse a sua. E não é. Responde o guarda enquanto examina, temeroso, o alto da edificação.
A menina segue a direção do olhar e, sinalizando o mais alto do prédio, onde se alcança a ver um piso inteiro – todo de vidro espelhado -, e pergunta:
E esses lá de cima estão a favor ou contra?
Ah, não. Responde o homem e acrescenta um sussurro: Esses são os donos da lanchonete. Não necessitam se manifestar por nada, simplesmente se faz o que eles mandam.
Afora, mais adiante no caminho, se olha um grupo de pessoas que, você supõe, não teve interesse em entrar na lanchonete e seguiu seu caminho. Outros tantos saem do estabelecimento aborrecidos, murmurando: “é impossível raciocinar ali dentro” e “em lugar de ‘A História’, deveria se chamar ‘A Histeria’”. Riem e se afastam.
A menina para olhando. Você duvida…
Ela lhe diz: Pode ficar ou seguir. Só seja responsável pela sua decisão. A liberdade não é só poder decidir o que fazer e fazê-lo. É também se tornar responsável do que se faz e da decisão tomada.
Sem falar ainda, você pergunta a menina: E tu, onde vai?
Ao meu povo. Diz a menina, e estendendo suas mãozinhas ao horizonte como se dissesse “ao mundo”.
Desde as montanhas do Sudeste Mexicano
El Sup.Galeano
É méxico, é 2020, é dezembro, é madrugada, faz frio e uma lua cheia olha, assombrada, como as montanhas se incorporam, levantam um pouco as anáguas (vestido tradicional das mulheres indígenas em México) e devagar, muito devagar, começam a andar.
Do caderno de Apontamentos do Gatochorro: Esperança conta a Defesa um sonho que teve.
Daí que estou dormindo e estou sonhando. Claro que eu sei que estou sonhando porque estou dormindo. Então, daí que olho que estou muito longe. Que existam homens e mulheres e outroas muito outros. Que eu não os conheça. Que falem uma língua que não entendo. E tenham muitas cores e modos muito distintos. Façam muita bagunça. Cantem e dancem, falem, discutam, chorem, riam. E não conheço nada do que vejo. Há construções grandes e pequenas. Existem árvores e plantas como os daquia, mas diferentes. Muito diferente é a comida. Ou seja, tudo é muito diferente. Mas o mais estranho é que, não sei porque nem como, sei que estou em minha casa.
Esperança fica em silêncio. Defesa Zapatista termina de tomar o apontamento em seu caderno, e fica olhando e depois de alguns segundos, lhe pergunta: